MEU AMIGO...
Data 19/03/2011 18:09:39 | Tópico: Poemas
| Dos sertões da minha terra A distância não existe Onde o sonho se descerra E decerto além persiste, Faço minha cada serra Apontando o canto em riste A verdade não emperra Coração não se faz triste. Mas a bala que cruzando Na empreitada outra tocaia Pouco a pouco demonstrando Quanto a vida mesmo traia, E se faz em fogo brando Por qualquer rabo de saia.
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O meu nome pouco importa, Apelido? Tanto faz Vou abrindo cada porta Mostro o quanto sou capaz. A saudade não se aborta A tristeza é Satanás Outro dia pouco importa Esperança fica atrás. No versejo da vontade Nada impede o que se veja, Ouso mesmo em liberdade A cabeça na bandeja Pouso enquanto a vida invade, Traz; amigo, outra cerveja.
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Enfrentei cada armadilha Do destino mais cruel E seguindo toda trilha Esparramo pelo céu Perseguindo esta matilha No caminho em carrossel, Onde a sorte tanto brilha Imagino o meu corcel, Nos tormentos desta vida Muita coisa eu encontrei, Onde vi bala perdida, Na tocaia sendo um rei, Aumentando esta ferida Que deveras cultivei.
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Sem boato e sem mentira O que faço não se vê É preciso e se retira Nesta vida o seu por que, Dependendo de uma mira Muito mais do que se crê Amarrei calça co’imbira Numa casa de sapê. Mas agora fiz fortuna E casei com a donzela No cantar de uma graúna A beleza se revela, Tanta coisa que nos una, Meu destino? A morte ou cela.
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Das estâncias mais diversas Dos sertões do Piauí Das Gerais, entre dispersas Emoções; estou aqui, Se as mãos seguem perversas Coração? Amoleci. Quanto mais sentindo imersas Ilusões; não me perdi. Outro copo, uma cachaça Que decerto o tempo quer Caminhando pela praça Reparando uma mulher De repente a bala passa No destino que eu quiser.
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Se eu ferido fui, amigo? Na verdade eu já morri, Tantas vezes o perigo Encontrava ali e aqui, Respirando, então prossigo, Mas da sorte ora perdi Com certeza o meu abrigo, Tanto faz, também não vi. Ouço até falar do vento Que domina este verão Percorrendo sempre atento, Sem saber da direção O meu mundo mesmo invento Enfrentando o próprio Cão.
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Nos puteiros desta estrada A mulher com fartos seios Outra noite imaginada, Bebo a sorte em devaneios, E se sei desta cilada Noutro dias e rodeios, Fujo mesmo em madrugada Sem sequer saber os meios, Mas a vida me prepara Armadilha, uma arapuca, E depois da noite clara, Eu estou numa sinuca. Meu amigo se prepara Que esta vida é tão maluca.
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Das vontades e exigências Deste mundo sem cuidado, Ouço bem as diligências Noutro passo desejado. Contra tantas evidências, Eu mantenho sempre ao lado E vencendo as penitências Ando um tanto desolado, Pouca gente nesta vida Merecia algum carinho, Mas a sorte em vão perdida Noutro passo toma o ninho, E se faz da despedida, Com certeza o meu caminho.
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Meu amigo agora eu falo Com firmeza, pois sei bem, Aproveitando este embalo, Finja que não sou ninguém Eu não vou cantar de galo, Mas a vida quando vem, Muda tudo num estalo Nada tem quem tudo tem. O meu nome? Não importa, Mas você sabe conhece a vida E sabendo o quanto corta Alma dura e corroída, Tanto tempo estando morta, Num Inferno ora escondida.
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Sou chamado João Capeta, Afamado noutra terra, Cada crime que cometa, Uma cova rasa enterra, Olho a vida pela greta, Nos grotões de cada serra A minha alma anda cambeta, Porém meu revólver berra. E sabendo a direção Eu não erro a pontaria, Outros tempos me verão, Tendo a lua em montaria, Caminheiro do sertão, Só da lenda se sabia.
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Aproveito cada instante E no bar esta aguardente Que deveras nos garante Muito mais do que evidente Num anseio galopante Outro traço se apresente E se possa doravante, Nem a dor mais se apresente. Pois eu vou já te avisando, Sou amigo e nisto até, O caminho demonstrando Com brandura e sigo à pé Pelo mundo galopando No Capeta, a minha fé.
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Acontece que este fato Já não posso mais calar, Quando vi o teu retrato, Num momento a se mostrar, Seca a fonte do regato, Vejo nuvem no luar, Desfazendo algum contrato, Já nem posso disfarçar, Esta vida é traiçoeira E; portanto, não sossega Onde a sorte não se queira A verdade se faz cega, A saudade marinheira Noutro mar quer e navega.
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Nesta vila, com certeza Tem mulher a dar com pau Uma tem tanta beleza Remelexo sem igual, São coisas da natureza, Num momento sensual, Quem caçava virou presa, Sei que sou este animal. Sem ter medo de vingança Sem ter pena de doutor, No que tanto a gente avança Neste mundo sem valor, Já matei até criança, Tenho nada a te propor.
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Mas eu devo confessar Não sossego se não faço É preciso te falar Deste mundo sem espaço, Antes mesmo de notar Ninguém faço de palhaço, Ouso mesmo acreditar, No punhal e até no laço. Dos meus rumos já perdido, Sem saber o que fazer, Outro tempo percebido, Nos molejos do prazer, Fui por ela recebido Como é bom este querer.
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Armadilhas desta sorte, Que jamais eu conheci, O caminho que conforte Nele tanto eu percebi, O que possa além do corte No desejo que senti, Tem que ser, amigo, um forte, Isso é lá ou mesmo aqui. A verdade não retira O caminho que se quer, Preparando a minha mira Nova morte? Outra qualquer, Quanto a vida sempre gira... Trouxe a mim tua mulher!
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