
RUMO À LIBERDADE
Data 19/03/2011 20:05:35 | Tópico: Poemas
| No cabo da minha enxada Eu criei meus nove filhos Percorrendo a mesma estrada Entre novos, velhos trilhos, Cada dia outra passada Em terror, temor e brilhos, Quando a sorte desejada Superasse os empecilhos, Não podendo mais conter A vontade de voar, Onde pude conceber O caminho adentrando ar Nele está o meu prazer, Tanta coisa a conquistar.
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Dos sessenta me aproximo, O cabelo embranquecido Superando pedra e limo, Tanto chão já percorrido, Vou mirando aquele cimo E decerto eu não duvido, Do que tanto quero e estimo, Meu destino a ser cumprido. Nada mais eu poderia E talvez mesmo quisesse Quem sabendo de outro dia Do que passa já se esquece, Mas comigo a teimosia Hoje trago que nem prece.
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Vez em quando escuto a voz Que comanda o pensamento, E sabendo mais veloz O caminho que ora tento, Nada tendo contra nós O diverso sentimento, Já não quero nada após Nem sequer um cumprimento, Vou seguindo a minha sina E conforme Deus quiser, Outra sorte me fascina, Não deixando outra qualquer Dominar quem me domina, Venha o vento que vier.
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Preparei a vida inteira Um caminho aonde eu pude Desenhar nesta ribeira A verdade em amplitude, Vou subir outra ladeira, Já perdida a juventude Quer e mesmo não queira Minha sorte ninguém mude. De menino enfim sabia Que meu mundo sempre traz O caminho em fantasia E se mostra mesmo audaz, Noutro tempo se veria O que ninguém tenta e faz.
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Da viola cada corda Conhecendo muito bem, A saudade já recorda Do que fora e nada tem, Outro passo segue à borda Do tormento quando vem, E se o coração acorda Perco o rumo e perco o trem, E por isso não compensa Nem sequer algum momento Onde a sorte em recompensa Seja o quanto me alimento, Vida atroz, decerto extensa, Feita em luz e sofrimento.
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Pelo tempo que procuro Devo ao menos prosseguir Sendo o chão decerto duro, E distante o que há de vir, Já não faço mais seguro O caminho a resumir O desenho onde afiguro Tanto sonho a repartir. Vejo o olhar deste menino Procurando em claro céu Entre as asas do destino, Descortina a vida o véu E se vejo e me fascino, Coração vira corcel.
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Já criei a filharada, Sou avô e não desisto, Outra noite desenhada Caminhando sempre nisto, Percorrendo a mesma estrada É por ela que eu existo, Cada estrela desenhada Traz o sonho e assim persisto. Conseguir a liberdade Depois de ser tão escravo Quando bebo a claridade Meu caminho eu já não travo, Outro tempo em realidade No meu peito em paz encravo.
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Recebendo no meu rosto Este vento tão macio Sem saber qualquer desgosto Outro tempo desafio, E se sei da vida o gosto, Bem nas margens deste rio Pensamento já proposto Com certeza eu não adio, Pois olhando os passarinhos Nesta bela arribação Outros dias, novos ninhos, Todo instante, outra emoção Sem saber dos tão mesquinhos Desejares do patrão.
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Liberdade, liberdade Onde está que ora procuro Nesta mesma claridade Ou também no céu escuro, Não me importa o quanto agrade Ou decerto se é seguro O momento quando agrade Superando qualquer muro, Na cidade ou no sertão Outro passo procurando Qualquer sonho ou diversão Neste mundo desde quando Novos dias mostrarão Meu caminho desvendando.
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Jamais tive em minha vida A certeza que hoje tenho, E se sei da despedida Tanto quero este desenho Feito além desta saída E no fim eu me contenho Vejo a história a ser cumprida No calor em desempenho, Não podia no passado, Meninada já cresceu, Hoje o sonho revelado Noutro sonho concebeu, Meu destino já traçado Num caminho todo meu.
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Vou seguindo o meu caminho Da maneira que puder, Mas agora vou sozinho Sem ter filho nem mulher Como fosse um passarinho Libertando o que se quer, Noutro canto eu já me aninho Seja como Deus quiser, Asas; crio a cada dia E também nada se tema, Outro sonho mostraria Já não tendo alguma algema Vida imensa então teria.
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Tempo traz esta vontade E jamais eu me perdi Onde vejo a claridade Com certeza estou ali, Na lavoura a faculdade Devo tudo que aprendi, Nesta enxada o que me agrade Traz o sonho que eu vivi, Sempre encontro cada rastro Dos meus passos pela vida, No momento aonde alastro Minha sorte resumida, O desejo já não castro, Liberdade tão querida.
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Nada mais me segurasse Nesta vida sem proveito O meu mundo em desenlace Já se faz bem do meu jeito, Demonstrando a minha face Coração vai satisfeito, E sem ter nenhum impasse, Meto as caras e abro o peito, Falta pouco, subo o monte E de lá tudo se vê Liberdade no horizonte Minha vida tem por que, Quando o coração aponte, Não pergunte nem cadê.
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Desta vida na senzala, Tanta terra em aridez, Coração agora fala E descreve o que tu vês, Noutro passo não se cala E seguindo sem talvez Mais depressa que uma bala Com completa sensatez, Mergulhando no futuro Libertado do passado, Novo tempo eu asseguro E não sou mais este gado, Meu caminho que procuro No destino já traçado.
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Na beirada do penhasco Vou abrindo a minha estrada Já cansado do carrasco Terei minha esta invernada Do meu todo resta o casco. Na verdade quase nada Com certeza já não masco, Nesta tarde ensolarada; E depois de tanto açoite No costado. A voz que agrade Nem espera pela noite Quero ter a claridade, Da esperança que me acoite Pulo em rumo à liberdade!
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