 
  
    	O TERRAMOTO - PARTE II
    	Data 20/03/2011 16:19:04 | Tópico: Poemas
 
  |  
  Desta vez, escapei.  O pânico foi terrível e não desapareceu, ainda. Longe disso. É um medo que fere como pregos retorcidos, espetados na carne viva do coração e, em cada pulsar, há um corpo inteiro que dói.  A destruição é pior do que a forma como a imaginava. A dor, essa, veio para ficar. Veio substituir tudo o que perdi, quando se perde tudo, menos a vida. Falam de um vazio.  Mentira.  O nada ocupa tudo e não há, sequer, espaço para o vazio. E para além de que o vazio traria a calma e a calma não existe. É uma arrogância.  E agora? Continua a haver dias. A noite para dormir. Depois, um acordar. Acorda-se e os corpos continuam mortos. As lágrimas secam, o riso desaparece bem como quase todo o senso.  Resta o instinto.  Minutos passam em branco e parecem horas, ou até dias, como é que o próprio tempo não foi engolido com a casa e com a rua, com o banco e a velha árvore, não sei.  Deixei de saber o que é o tempo. Acho que nem sequer sabia o que ele era, de facto. Mas parece-me indestrutível, talvez.
 
  |  
  |