Vida

Data 21/03/2011 22:59:05 | Tópico: Poemas

Minha vida que me passa
Não te posso ter por inteiro,
É desilusão que me abraça.

Tenho em mim coração primeiro
De anseio, medo, insegurança;
Conteúdo, talvez, derradeiro.

Vejo-te e sonho esperança,
Mas presa de falso amor
Tenho só fel na lembrança.

Turva a vista a minha dor,
Nada há que eu possa ver
Senão do passado o amargor.

Como, vida, a ti viver
Se longe de mim o amar
E perto, em verbo, o sofrer?

Morro há tempos sem chorar,
Vitimada por negra ilusão
Que te impede de viçar.

Retenho de ti a escuridão,
Pobre alma minha, anormal,
Num corpo de solidão.

Minha boca te prova o sal,
É o mel que tens para mim;
Justo prêmio, o saldo, esse mal.

Minha vida, onde teu fim?
Onde me alcançará a morte?
Em que lábio mora teu sim?

Tanto não em minha sorte;
Tanto sangue meu derramado;
Tão profundo, vida, o teu corte!

És poema meu, malogrado,
Que jaz à margem da história,
Dentro de um livro fechado.





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