Resposta

Data 20/09/2007 18:06:04 | Tópico: Crónicas



Não respondes. O teu silêncio corta-me o fôlego, deixa-me descompassado, triste. Irrito-me na proporção do meu egoísmo, na miserável auto-estima de que hoje toda a gente fala. Só sei que não me respondes. Os dedos bailam no teclado, procuro incessantemente o teu nome, as mensagens entradas, as chamadas não atendidas no fim de cada reunião, como se a vida de fora estivesse suspensa.
Procuro o significado de resposta. Procuro perceber o antes e o depois, a pergunta que a sugere e a não pergunta que não a causa. Aceno que sim a mim próprio. Afinal importa mesmo ser respondido, importam os afectos e os gestos, e as coisas que os livros das psicologias falam, do que me emociona e do sentido do que tomamos como nosso, como meu.
Se gosto ou desgosto, ou não gosto, mas é meu: o meu amigo, o meu inimigo, o meu conhecido, a minha namorada e a minha mulher. Tudo o que vejo e sinto – é meu. E o que é meu, guardo, guardo mesmo sem que seja preciso inventar nada para guardarmos coisas tão grandes e preciosas anos a fio. Insubstituíveis, preciosas, inestimáveis, oxigénio e sangue, carne da nossa carne, e das minhas dores por onde filtro o que realmente me dói. O que é meu.
A não resposta é dor, porque me arranca e violenta o que é meu, aquilo que me torna corpo inteiro, que me faz feliz.
Responde, mesmo uma não resposta é sempre melhor que um silêncio, um vazio, um interminável minuto em que o vento se cala, as luzes se apagam e me torno escuridão, opacidade, invisível.
Responde meu amor, ou pergunta porque estou aqui, na mesma varanda onde um dia me mostraste a tua cidade, os teus muros, pedaços da tua infância e desse teu eu, a que sempre quis responder como meu.
Do outro lado do tempo, na cidade dos porquês, tenho uma sala marcada, esperando sempre pelo teu, que tem a resposta guardada aqui dentro. Um sim despojado e profundo de quem tudo pode dar, porque tudo se entrega a quem de verdade sabe perguntar: Queres ser meu?





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