Sobre Meninos e Lobos e Sobre Nós Mesmo

Data 24/03/2011 21:44:47 | Tópico: Textos -> Crítica

Dave, no inicio do filme nem consegue terminar de escrever seu nome no cimento fresco da calçada. Enquanto seus dois amigos já escreveram os nomes Dave é interrompido pelos falsos policiais que logo após o seqüestra e leva para o porão. O nome pela metade que fica gravado no cimento representa a interrupção da vida daquele garoto.
Os sonhos interrompidos e destruídos por pessoas inescrupulosas. O cotidiano interrompido pelo capricho do destino. Numa fração de segundos e nossa vida toma um rumo diferente.
A escuridão do porão frio e as angústias do garoto são circunstâncias que nenhum ser humano deveria passar. Mas a vida é cruel em certas ocasiões. Toda criança tem direito a educação, saúde e segurança. Além disso, o fundamental é o carinho que essa criança precisa para crescer saudável e criativa. Infelizmente, nos nossos dias esses direitos estão sendo destruídos em larga escala. As drogas, os jogos e a prostituição infantil tem sido massacrante. Não temos a segurança do Estado e a família já não existe. As crianças estão sendo jogadas e abandonadas quando mais precisam de apoio. E a pior violência é aquela que vem do próprio seio da criança. Naqueles que ela confia é onde a violência dói mais. E, não são poucos os casos de crianças violentadas pelos pais, padrastos, madrastas. Aqueles que deveriam proteger são os vilões que sagram as almas inocentes de crianças que se tornaram lobos no futuro.
A falta de confiança depois de adulto é o que notamos na vida de Dave e que representam de forma magistral algumas pessoas que vemos em nossa sociedade. São vampiros. Zumbis ambulantes em uma sociedade moldada pelo descaso. Dave não confia em sua própria mente. Não sabe se realmente foi ele a cometer o crime ou que crime cometeu. E, se a pessoa não confia nela própria, com certeza vai abrir margem para que outros desconfiem. Dave morreu, chega afirmar o personagem em determinada parte do filme, não sei quem saiu daquele porão, mas definitivamente não foi o Dave. Onde está a lápide de muitos morto-vivos que perambulam pelas nossas ruas? Com quantos Dave nos encontramos durante o dia? Cruzamos com eles nas ruas, bebemos com eles nos bares e dormimos com eles sob o nosso teto.

Obs: Este texto é parte de um artigo sobre o filme Sobre Meninos e Lobos.

Odair José
Poeta e Escritor Cacerense

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