No vôo do atobá

Data 31/03/2011 18:36:25 | Tópico: Poemas

Vês o vento que te sustem e passa,
Vês o nada que sempre de tudo te cerca,
Vês de perto o distanciar do medo,
Vês os arcos dos montes que o luar abraça,
Vês o céu aberto revelando seu segredo.

Tudo vês e vês também meu desespero,
Meu ar falido, meus pés pregados ao chão,
Chão onde sepultado, acreditas, meu receio
Que a liberdade que me foge, teu esmero,
Prive-te o ninho, o silencio, a devoção.

Extasiado por teu planar soberano
Sinto escapar o coração que busca
Entre a vertente de teu vôo e a maresia,
Entre o penhasco da agonia e o oceano,
Outrora intacta, a luz que o despertar ofusca.

Já não verás nas vestes do tempo jardins,
Como a usura não vê tua alma de liberdade.
Duvidosas brisas, receio, te afagarão
Com odor e fumaça, sufocado o perfume
Que lá ficou na infância, longínquo lume,
Na infância do progresso ou no sertão.

Vejo contigo, como quem vê nova estação,
No ruído dos ventos e na mansidão da brisa,
A “esperança”, sopro fresco, etérea aragem,
Que a virgindade da luz redima as telas,
Que nuvens redentoras inundem a paisagem
Onde proliferam as urtigas e a cobiça,
...
E que ao mar o vento verde reanime as velas.



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