Um raio de sol entrou pela minha janela, entrou pelas frestas do quarto e pousou lindas sombras onde não é ninguém nem nada.
Observando as sombras, via como estas mudavam de direcção, consoante o sol se movimentava no seu eixo, e novas sombras erguia.
Levantei-me; e puxei os estores ainda mais para cima; as sombras deram lugar à luz do sol, que esbanjou sua riqueza por todos os cantos.
Apenas uma pequena sombra persistiu na sua imobilidade estática, que provinha de uma pequena estátua de bronze, já com o seu verdete.
Aí a sombra reinava, como uma linha direita, posicional ao armário, que ocupa o meu distinto quarto, e podia-se ver seus movimentos imaginários.
Movimentos que adivinham da pequena estátua, lendo um livro, pelo corte do artista, que era bom leitor e quis mostrar isso mesmo, aquando da sua feitura.
Ela ali se encontra, a um cantinho onde o sol vai esporadicamente, quando a manhã é completa e invade lugares como quem caminha sem parar.
Tenho-a faz anos, e não me canso de olhar para ela, sempre tão altiva e singular, segurando o livro aberto, linhas das pernas cruzadas, como se repousasse.
Jorge Humberto 01/04/11
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