
Colhe de mim
Data 23/09/2007 16:13:33 | Tópico: Poemas -> Sombrios
| Colhe de mim o que não tenho, o que em viagem já perdi…
Talvez o gosto, o gesto, talvez o pranto, o silêncio fundamental do canto … Talvez o sonho … de amanhecer raio de luz a pespontar por entre folhas bravias, ser aroma, cor, das cerejas… doces, macias, brandas, sabor dum beijo, um só beijo de saliva ideado com as tintas nobres de Lua.
Colhe de mim, amado, o que não resta mais, de um tempo de reflexos tristes, o que se exprime aniquilado num epitáfio de líquenes no sopé da floresta.
O cheiro da terra abafa a morte, a morte suplantada em escombros d'outrora espigas.
Colhe de mim, antes que finde, antes que estrelas purpúreas mordam em malícia e peçonha a polpa da minha boca, e não mais possa soletrar o teu nome … o teu nome, meu amado, o teu nome sussurrado num cântico divino, ousado e desmedido, entoado em coro angélico, ínvio, no teu colo, no teu ombro, ao teu ouvido, letra a letra, lentamente, em delírio e agonia na esterilidade de uma vida que em ser pó se alonga e se demora!
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