 
  
    	[Dialética do Tédio]
    	Data 17/04/2011 20:16:17 | Tópico: Poemas
 
  |  O meu tédio é sem causa, sem nome. E o maior absurdo é perguntarem-me a que se deve o meu tédio!
  Nervoso, e ainda mais entediado, respondo que a fina síntese do meu tédio  é não conseguir romper a pústula da existência...
  Suportar tormento dos outros que existem além de mim, além das fronteiras do meu corpo — que poderia ser mais entendiante que isto?
  Suportar as contradições minhas, os erros meus, e os massacrantes antagonismos dos circunstantes — alguém pode atinar com causa maior para o tédio?
  Suportar a masmorra que há em cada minuto, a cinzenta prisão sem data certa para a liberdade — será necessária outra razão para o tédio?
  Suportar a vida sem onde, perdida já, a voz triste do ermo dos sonhos desfeitos — já não me basta como essência do tédio?
  Suportar, sentir na carne até, ao correr das décadas, o ruir fragoroso das verdades de cada época — por que eu precisaria dizer mais sobre o meu tédio?
  Suportar a crescente descrença no ato de falar aos outros, o emudecimento sufocante no frio de um beco escuro — pode alguma coisa ensurdecer mais tédio em meu peito?
  Suportar a lentidão arrastada das esperas, a fina garoa esparzida nos becos da minh'alma — o que mais poderia me matar de tanto tédio?
  O meu tédio, quem diria... é sem causa, sem nome; ou tem todas as letras do meu próprio nome?! Bater em portas erradas faz mal à saúde...
  [Penas do Desterro, 21 de agosto de 2008]
 
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