Retrato da memória [10]

Data 28/04/2011 21:21:09 | Tópico: Textos

Algures, num qualquer dia assinalado numa folha de calendário antigo e perdido num canto escuro de uma casa ao abandono, mas onde perduram as memórias de um tempo que já foi cheio!...
Um homem caminha com uma pequena pela mão. Foram por um atalho, pois que a camioneta não passava da Benfeita e até lá ainda era uma boa meia hora a palmilhar o carreiro. Além disso, o bilhete também custava dinheiro, daquele que pouco havia.
A poeira a entrar-lhes pelos sapatos e a tingir-lhes de castanho as meias brancas de sair. Mas isso era o menos. O pior eram os pés a queixarem-se dos tornozelos e os tornozelos a finjirem que não era nada com eles...
Já havia amanhecido entretanto, mas ainda faltam uns bons pares de km até à vila. É preciso apressar o passo, pois o especialista de Coimbra não costuma esperar por ninguém.
_ Pai, ainda falta muito? - Pergunta a pequena já cansada.
_ Não. Não vês que já andamos a maior parte? Daqui até lá é um salto! - Responde-lhe o pai, tentando a todo o custo, apaziguar-lhe o desânimo.
E lá seguiam os dois estrada fora. Agora já no asfalto, mas ainda assim, muito longe do destino que ali os tinha levado.


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