Escureci logo pela manhã. Essas esquinas vazias e sem milagres cansam-me. Antecipo uma chegada com os olhos eróticos, devassando a vontade encolhida na mente. Algo afaga-me os seios, rasga-me os bicos e atravessa o meu caminho para o banheiro.
Inteiro, vejo partes perfeitas. Pedacinhos de prazer. Tropeço em mim mesma, páro apenas para contemplar todas as possibilidades do real. Pecar não faz mal. Espio os contornos de Mercúrio, sou tão virgem, sou censurada, meus olhos querem a pornografia barata, a poesia de pernas abertas, um poema em ereção.
Debruço na sombra, olho sem ver a minha escuridão abençoada. Ajoelhada seria uma maravilha, poderia fazer mais uma filha.
Estou decolando para o destino inacessível, para uma barba, para essas coisas que não.
Recomponho a vida: fica chatinha de novo. Reclamo. (reclamar faz parte da encenação) Quero. Quero.
Mergulho na personagem e aterrisso sem cinto de segurança enquanto tudo permanece tão igual. Pecar não faz mal.
Olho mais uma vez e já estou assexuada. Nada. Nada. Poderia ser um afluente do Amazonas desaguando na tua boca. Poderia.
Fecho a porta, subo, esqueço, não mereço olhar o menu que não vou comer.
A vida nubla. Chove. Isso ainda move minha águas. Isso é tão chique que não saberia usar os talheres. Isso é para ela, para as outras.
Canto Fleetwood Mac e as escadas uivam, a mesa tem um ataque. Coloco os óculos, incorporo enquanto o desejo pinga mansinho pelos poros.
Pecar não faz mal. É aqui que eu pressinto. É aqui que te sinto.