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 [Retrato do Abandono]Data 25/05/2011 16:34:27 | Tópico: Poemas
 
 |  | [Estação-Poema da vida] 
 A velha drogaria cerrou as portas de vez.
 Na certa, o ambiente do cômodo, as paredes,
 já não mais trescalam aquele odor característico
 que a gente percebe tão bem em toda farmácia.
 
 No larguinho em frente, cresce uma árvore,
 um "chorão" solitário — não tão solitário
 quanto eu, que bem tarde da noite,
 passo devagar pelo largo da farmácia,
 sem rumo, sem motivo algum
 [ou há um motivo e eu não sei?].
 
 Passo... sigo vagamundeando lembranças
 de outras quadras de meu tempo,
 os tempos não melhores que este,
 que cada tempo tem seu sumo,
 e o que fazer, se mal o aproveito?
 Cada tempo que vivi, eu sei,
 foi roubado à morte, é claro.
 
 02h45...Contorno o largo da farmácia
 pela esquerda; e a esta hora, encostada
 no frágil tronco do "chorão", lá está
 a putinha magrela que ainda tenta...
 
 A vida é traição, e não perdoa:
 tira retratos do abandono,
 faz comércio com a dor.
 
 [Penas do Desterro, 21 de maio de 2011]
 
 
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