O lago ficou quando ela voltou. A casa com jardim e os livros também.
O gelo do inverno e as árvores choraram. Ela estava quase bem.
Quando chegou, a vida tinha pouco sentido. A língua era outra, o sol era forte. Ela havia se perdido. Ela tinha vindo do norte, daquelas florestas imensas e belas. Ela tinha deixado a vida lá em cima.
Foi então que abriu a janela e chamou por ele alto, sem mais ter por onde sangrar.
E de olhos fechados, começou a viajar. Ela se sentia tão leve e de seus olhos escorriam pétalas de flores de todas as cores, iguazinhas as que ele tinha posto nos cabelos dela um dia, um dia.
Sem ele, ela era apenas silêncio. Lembrou das palavras, dos sentimentos, daquela dor, daquela dor tão igual a essa dor. Lembrou do lago. Mergulhou.
Quando acordou, sua mãe segurava a sua mão e ele estava envolto numa luz, naquela luz que não era dela.
Um dia, ela abriu a janela novamente e ao invés de olhar para baixo, olhou para o céu e ele sorriu e ele apenas sorriu.