MOBY DICK, Herman Melville (1851) - como pescar baleia e empatar a vida

Data 30/05/2011 13:38:35 | Tópico: Textos -> Crítica

Esta, como boa parte das minhas observações sobre os livros, já tem idade, escrevi-a, em 2006, e é por ela que o publico, como um conselho para não falar nem bem, nem mal de livros que não tenhas lido e concluído (quer dizer, se não o conseguires concluir, julgo que podes falar mal). Vai ela:


Quando eu tinha 14 anos li Moby Dick de Herman Melville na versão juvenil, e não gostei lá muito, aliás, não gostei nada, pois não via piada nenhuma num tresloucado que saía do seu território para ir arpoar uma baleia no território desta, parecia-me o abuso dos colonizadores, hoje parece-me o abuso americano; era como ler uma tourada.

Mas como sempre deparo com Moby Dick como uma das obras-prima dos clássicos da literatura, tanto em outros livros, como em filmes, achei que devia lê-lo de novo, acreditando que hoje estou mais maduro, literariamente falando. Entretanto, o livro era volumoso, 660 páginas, o que me mete medo logo à primeira, e de uma certa maneira parece-me um desperdício, pois posso ler seis livros no mesmo espaço de tempo que vou gastar para ler esse, o que é mais económico e frutífero (se os seis não forem livros de Paulo Coelho[1]).

Entretanto, resolvi não economizar e ler o Moby Dick. O que dizem na síntese sobre o livro é que se trata da história de um pescador que tenta a todo custo caçar a baleia que lhe comeu a perna (e foi isso que mais fez com que eu não tivesse decidido a lê-lo), porém, essa descrição é uma injustiça para o livro, pois que Moby Dick é muito mais profundo que uma história de ódio e obsessão.

Ainda estou a ler o livro... ainda só li dois sexto dele, mas garanto-vos que é uma leitura que vale a pena. Parece um manual de pesca, mas tirando essa parte técnica, está a revelar-se uma viagem no espírito humano.

E para acrescentar mais palavras digo que a prosa do autor é esplendida, às vezes simplista, outras arranjada, mas apanhando-lhe o ritmo é cativante.

P.S.: Só não gostei que tivesse chamado a um preto de anjo das trevas (mas perdoo-lhe isso, porque ele é um fruto da sua época).

…………………


Bem, uns dois dias depois larguei a obra, porque tornou-se chata pa caramba, não parecia um manual de pesca, era mesmo um manual de pesca, tinha uma parte onde ele falava de peixes que parece um piscis-zoólogo (ou lá como os doutos os diriam), eu julgava que lhe tinha apanhado o ritmo, mas cansei-me a meio. Definitivamente para mim, não é um bom livro, mas se se procedesse a cortes no livro, deixando para lá o dispensável, para mim seria realmente uma obra, talvez não prima, mas sobrinha.

Apesar de não ter gostado do livro, reconheço a sua profundeza e a sua atemporalidade, séculos sobre séculos amontoarão e o homem continuará sempre a correr atrás das suas baleias, alguns por ódio, outros por ilusão, outros porque têm de participar na corrida, afinal somos todos Ahabs, laborando energicamente para atingirmos as nossas metas; a essa leitura chegamos se olharmos Moby Dick por uma outra vertente e não a explícita do livro.


Por alguma razão Moby Dick é um clássico considerado obra-prima, mas não é um livro que eu recomendo.




[1] Depois de tanta recomendação e bem-falação de alguns dos poucos amantes de livros que eu conhecia, meti-me a ler Paulo Coelho, O Alquimista para abrir, não entendi o tanto entusiasmo acerca do livro, porém continuei a ler o autor, e li cinco títulos e gostei apenas de Monte Cinco, mas até que era capaz de salvar metade de Verônica Decide Morrer; eu sei que os críticos invejam qualquer artista que comece a ter visibilidade, por isso decidi ler todo o Paulo Coelho que me fosse parar às mãos, para poder dizer com alguma isenção que não gosto dele, para não ser como os ateus que desprezam toda a Bíblia sem nunca o terem lido. No entanto, prefiro Paulo Coelho a Hemingway.



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