Sou serva da poesia que me serve. Abaixo a cabeça para as figuras de linguagem que carrego nas mãos sem bagagem, nas pregas da saia, na pele sempre pronta quando eu ainda estou tonta na minha ousadia.
Sou cativa da poesia viva, dessa poesia que abre a janela para eu respirar quando tudo é quase um claro enigma e alguma vertigem. Sou escrava dessa poesia que faz amor comigo todo dia e todo dia me deixa virgem, me deixa santa, me deixa pura e puta.
Sou submissa a todas as palavras que me faltam quando lembro de você, quando estou fraca, quando estou na boca do prazer, quando deixo de ser o que sou e sou todos os outros, todas as outras que gritam em mim.
E essa dependência me faz independente, me torna tão maior, tão esquisita, tão doente e aflita.
E essa dependência ninguém entende ou explica. Ninguém a não ser eu mesma.
Todos os dias, ofereço as minhas mãos e ela me algema e ela corta os meus pulsos até as palavras sangrarem e escorrerem poemas. Não sinto dor alguma, não sinto nada. O meu sofrimento é sempre elegante: ele nunca dura mais que um instante. Peço a palavra e falo por nós dois.
Sou serva da poesia que me serve e mesmo carregando essas correntes todas, minha alma continua livre e leve.