Subjugado ao divino

Data 11/06/2011 18:12:37 | Tópico: Poemas

...
Júpiter, acompanhas-me até à Avenida Principal? Sim, não te preocupes, era mesmo isto o que precisava. Só te tenho a agradecer. Já agora, posso tratar-te por “tu”? Desculpa o atrevimento.



Há dias que te tenho observado.
Tenho-me descoberto a observar-te, grande corpo celeste,
Imenso pedaço de vida e luz.
Nos meus olhos figura o mais sereno do mais sereno retrato;
O mais brilhante do mais brilhante que pode ser;

Numa catarse indistinta, num sublimar de espectros divinais,
De auroras envolventes e sedutoras plumas,
Vais-me enternecendo o tempo.
Amoleces-me as, então submissas, emoções.
Imortalizas-me o mais primitivo de mim,
Eternizas o mais afincado do que já nem sei se sou.


Cá por baixo tem estado tudo na mesma. Que tal um café? Tenho tempo.
Eu sei que não me conheces bem, mas eu vejo-te sempre e desde sempre.


Embalo-me e às percepções convencionadas.
Sou mais do que fui feito para ser.
Sinto mais do que fui feito para sentir.
Este sou eu amargurado com o sentimento,
Louco. Seduzido pela tua sensualidade, Júpiter.
Mergulhado no mais revolto, no mais intenso vórtice abstracto,
No mais impetuoso expoente, na mais ardente corrente.


Não quero atrasar-te de maneira nenhuma. Eu pago, não te aflijas.
A vida tem-me corrido bem nesses termos.
Pelo menos


Oh Júpiter,
Clareia-me as vísceras.
Purifica-me o alvoroço escuro que escondo,
Banha-me o que não tenho.
Envolve-me as entranhas e coloniza-me. Totalmente.
Faz-me ser um bocado de ti.
Partilha essa tua vista maravilhosa comigo.
Este sou eu, irredutível, a pedir-te que me unas aos céus;
Que me sejas e que me deixes ser-te.

Tem-me. Sê-me.

Funde-me com o maior vigor.
Agrega-me os sentimentos num só
E faz-me levitar. Perto de ti. Contigo.


Lá estão os jardins da Avenida. Sim, cada vez mais nítidos. São eles.
Parece-me que está na hora de cada um seguir o seu rumo


Deixa-me ser imagem divinal.
Eternamente: pelo desconhecido.


Resta-me esperar que tenhas gostado do café.
Podemos repetir. Um dia.




Rui Gomes, 6-11-2011



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