Talvez eu possa perdoar as nuvens por sua breve existência. Talvez eu possa perdoar as estrelas por ficarem tão pouco no céu.
Se eu te perdoar, não me perdoarei.
Perdoa-me também por ser mais má do que boa, por desconhecer o bem. Esse bem torto que levanta às seis e vive de discursos politicamente corretos.
Tenho tantas sombras na minha luz: a escuridão sempre me ajudou a ver melhor.
Se eu te perdoar, estarei bem menor, bem mais tosca, bem mais isso.
Se eu te perdoar, serei menos: menos esquisita, menos aflita, menos mulher.
Se eu te perdoar, não te perdoarei. Permito-me solidificar o ar enquanto esqueço.
E se eu morrer por agora, antes da mágoa ir embora, te digo mais uma vez que nunca te perdoarei e não te perdoarei por tudo que fizestes quando não fez, por todas aquelas pequenas coisas que te deixam mais bêbado, mais morto, mais, muito mais, por essa paz que me tirastes, pelo próprio perdão que um dia me roubastes.