(Chamaste-me, E nessa altura o som do teu sorriso, Chegou para me aliviar a dor, De um membro obtuso à saúde, Que depressa se tornou obtuso à solidão.)
Entraste no quarto, protegido por umas cortinas, O calor da tarde, o fresco do interior, E eu pensava em ti, pensava na dor, Pensava que te queria, meu amor,
E enquanto eu pensava que te queria, Ouvi a tua voz, a tua melodia, E o desconcerto de quem estava doente Desapareceu, fulminou-se de repente,
Depois, depois, depois
Depois passaram-se os dias Passou o tempo, passou o que tinhas Para dar a mim, e deste a outro, E eu procurei outra para me dar eu.
Depois, depois, depois,
Depois outro membro se fez obtuso, E eu, preso na minha solidão (?) Pensei, amei e senti-me confuso (?) Quis a tua companhia, preencher o coração.
E cravei punhos nas paredes, Gravei cortes no papel, A pensar "porque desapareceste ?", A querer-te, pois ainda havia "mel".
Depois, depois, depois,
A minha dor foi contaminada Pela alegria de ter de estar para com os outros, De ter de estar para comigo, evitar a cilada De ver com os olhos sem ver com o peito,
Partilhei até a minha frustração Com alguém que sofreu semelhante provação, Desta dor física, tornada psíquica, Desta dor física, feita emoção.
Agora,
Olhando para trás e para o tempo, Encontro-me sem esquecer qualquer momento, E a tirar daí inspiração para viver Melhor, e para poder talvez dizer
Aquelas palavras sussurrantes que ao menos Pareciam encher-te de alegria, Mesmo que tenhas tornado tais factos pequenos Após a morte daquele dia. Chamando as memórias... para pedir a beleza... de momentos bonitos...
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