Cápsula

Data 01/07/2011 16:57:35 | Tópico: Poemas

"Mãe, olha o que encontrei."

É dura.
Tive que a morder: puro ouro?

- Uma dádiva, podes crer, uma dádiva
Postra-te, não decifres, sente.
Cessem o não necessário: respirações. -

Está brutamente perfurada, milimétricamente.
Reage à epiderme: calor. Fundem-se irmãmente.

- Encerrei já as portadas do vulgo visível, não, tacteio apenas.
Presenças nada mais serão que o que me vier arrebatar. -

Desejo ficar aqui.
Suspensa no trapézio ebóreo da transparência.
As minhas mãos conservam a cápsula.

"Já aqui estávamos, os outros é que não deram por isso."

São sussurros, serena-te, são sussurros.
Conduzir-te-ão, excertos musicados em temeridade.
Hesito no sentido a dar-lhes.

"Guardei em mim o gérmen de uma afeição quieta,
Hoje árvore de querer brotando do meu peito."

Foi por isto que vieste. Por eles que vieste.
Estás aqui: anuncia-te.

- Respondi à existência pela regeneração. -

I am the Healer.

- Respondi à existência pelo sacrifício. -

Tu és o sacrifício.
Despe-te. Despe-te do afável, da transitoriedade.
Gera as aras rituais, pertencem-te.
É a Hora, uma vez mais.

"Está tudo bem, vai ficar tudo bem."

É a Hora.
A cada passo materializa-se o declínio
Repousando sobre a feminilidade própria,
As magnólias do teu peito, o ventre sideral da criação.
Moldando-te. Reclamando-te.

- A cápsula: permanece impassível na enseada crepuscular.
Tudo quanto possuís. -

Violento, por demais violento, um compasso acidental.
Uma queda, compressão instantânea do equilíbrio, fluí. Quebrara.
Surpresa.

"(...) how unbroken everything became."

(O verso final foi retirado de "you came into my dream ", da autoria de Anis Mojgani)



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