Ária (Cecília Meireles)

Data 06/07/2011 00:43:28 | Tópico: Poemas -> Introspecção

Na noite profunda,
deixa-me existir
como os loucos em nuvens,
como os cegos em flores.
Na profunda noite,
deixa-me chorar
sobre os rios convulsos.
Na noite profunda,
deixa-me cair
entre os céus impotentes.
Na profunda noite,
deixa-me morrer
como um pássaro inábil.
Na noite profunda.

Quem vai nos recordar
na noite profunda?
Pensamento tão gasto,
amor sem milagre
na profunda noite.
Os amigos se extinguem.

Deixa-me sofrer
na profunda noite.
Ó mãos separadas
que ninguém reconhece
na profunda noite.

Na noite profunda,
deixa para sempre,
deixa agonizar
solitário meu rosto,
na noite profunda,
na profunda noite
que a memória levar.

Cecília Meireles, poetisa brasileira.



Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=191570