ó mundo, tropas, multidão de escarros

Data 10/07/2011 21:40:00 | Tópico: Poemas

ó mundo, tropas, multidão de escarros
tristes e sós a ver passar as bicicletas
calados e sós no desenhar da morte
a tinta da china
despertos e sós
a sonhar os ninhos cheios de biquinhos
asas de permeio na brisa que veio

sente-se no azul um soluço só
a quebrar o coração na vigilia na água
ao desfiladeiro dos olhos
tortura silenciosa
e o pacífico tão longe
quilómetros da angustia
na diminuta boca da esperança
não importa mais a derrota
do vento nas janelas das lágrimas
quando sob os pés pequenos
correm os estilhaços no mar
da fome de todos os nomes calados

sob o algodão a pele coroada
de fragilidade, veias de líquen
e os bolsos a cair dos alfinetes
inutil saber do angulo recto da vida
porque a catrineta furada não pára
na noite perdida da infancia

inutil espiar o silêncio
pois é todo de trapo velho
não há cura para as raízes
que se enovelam na inércia do querer
a água foge no ralo do fumo
e a cidade é uma ilha sem barco
para os verdes das gaivotas

tudo está roído pelo desdem,
de pernas abertas sobre os terraços
da comiseração
tudo está roído pelo esquecimento
de um terrível futuro silencioso
e sem pão.
ó mundo, tropas, multidão de escarros
vendaram vossos olhos idiotas,
libertaram nos campos as cobras heroinas
do deslumbramento fútil,
os verdes estão cheios de covas de ratos
a venerar os ricos de óculos escuros
venha o incêndio aos urinóis do pasmo
e queimem-se os pénis indecentemente
herdados dos gemidos.


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