Ivan

Data 11/07/2011 14:23:46 | Tópico: Poemas

Ivan


Nada tem valor a não ser o sol que nasce e se põe cada dia no mar - a não ser essas pálpebras que seguem o mesmo ritual em duas bolinhas azuis. Ele é inocência e alegria no mesmo sorriso, quase como um riso. Excelente para fazer dieta de spleen e se satisfazer de ideal sem sair de casa. Também lhes posso aconselhar os cabelos loiros como o mel, as bochechas como um leitão, as mãozinhas gulosas e doces como sobremesas e mesmo assim não vos conto a pele aveludada como café.

Estávamos tão próximos um do outro que só podia caber entre nós uma folha de desenho, mais alguns lápis de cor apenas.O aborrecimento não existe naquela imaginação tão selvagem e invencível quanto a liberdade, tão mágicos e abundantes quanto os sonhos. E eu me aproveitava como uma criança grande; falível e corruptível.

Palhaçadas, truques de mágica, jogos das perguntas e respostas, feiras, mikado, matraquilhos, serpentinas, jogos de bola, charadas, chicotinho queimado, origami, batata quente, coelho na toca – e a brincadeira partilhada fazia todo o sentido no caminho inesperado da luz através das bolhas de sabão. Era lindo ver a luz presa num instante!

Mas que grande sentimental aquele diabo ! Sinto falta do carinho que ele me dava como a noite sente falta da lua por vezes - deste corpo contra o meu, deste rosto macio contra o meu rosto picante, desta mão pequena na minha mão de adulto.

Mas a natureza faz que não somos nada um ao outro e nós não somos nada perante a natureza. A vida faz que intervalaremos os encontros. Ele provavelmente se esquecerá de mim na corrida para idade adulta. Talvez também me esquecerei dele quando estiver menos só. Quererá o tempo deixar qualquer coisa de nós? Se o destino nos unir noutros lugares, apertaremos a mão um ao outro, quase como desconhecidos... quase mas não só.



lipe


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