Asas de Papel

Data 22/07/2011 02:13:47 | Tópico: Poemas

Sentei-me numa cadeira de cartão, perante uma secretária de vidro.
Peguei no meu lápis de seda.


Fiz um traço, depois outro. Desenhei caminhos, lágrimas, repressões, todos eles entre riscos. De tudo isso, resultaram asas.
Asas de papel.
Tão sonhadoras, mas mais que isso, frágeis.

Recortei-as e colei-as na parede, ao lado das palavras que em tempos foram ditas e de outras que em tempos tiveram sentido.
Colei-as ao lado do ódio e do amor, ao lado do choro e do sorriso, ao lado das memórias, das lembranças que ainda assombram e ao lado das canções já esquecidas.


Sentei-me no chão, de pernas cruzadas, apenas coberta com um trapo velho.
Está frio e continuo aqui, a olhar aquelas asas.
Espero, sentada e apenas vestida pelo trapo das desiluções ainda um pouco recentes e já um tanto distantes, trapo esse feito de outros panos ali cosidos, como o pano do adeus e o pano da esperança, esperando que toda a magia dos sonhos se possa tornar realidade, que estas asas me possam levar longe.
Mas elas são frágeis e mal despegam da parede.


Estas são asas fortalecidas pelos sonhos, pelas lágrimas que escorreram numa rosto pintado a óleo numa tela branca, pelo querer de ir para além do horizonte que me foi desenhado e imposto, no entanto, não deixam de ser asas de papel.

E eu continuo à espera, olhando-as, imaginado-me em cima de um comboio que me possa levar às estradas de quem quero ser.
Lau'Ra



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