
O alfange do tempo (Thiago de Mello)
Data 23/07/2011 10:52:30 | Tópico: Poemas -> Reflexão
| Para Antonio Faria
O tempo é o grande milagre da vida do homem no mundo. Não tem começo nem fim. Mas está vivo, animal respirando imenso em tudo que a gente quer, sonha e faz.
O tempo que já passou te conta como vai ser o tempo que vai chegar. Tudo leva a sua marca, de pétala ou de ferrão.
Tudo traz o seu condão: a criança correndo; o rio passando, a rosa se abrindo, a lágrima da alegria, o silêncio da amargura, a luz-mansa da ternura, o sol negro da pobreza.
O tempo é o nada que é nada. O tempo é o tudo que é tudo, o tudo que vira nada, o nada virando amor, o amor inventando estrelas, a mais linda se apagou na fronte da moça amada.
O tempo está no teu peito clamando nas coronárias, mas se esconde nas funduras dos neurônios quando sonhas. Está no fogo e no orvalho, fermenta o pão que não chega, arde o forno da esperança.
Alma do tempo é a mudança que come o que vai mudando e depois dorme sonhando disfarçado de memória.
Nada perdura na vida, a não ser o próprio tempo, finge que passa, mas fica. Imutável, modifica.
O tempo é o sol do milagre. Cuidado, ele está chegando na claridão da manhã. A noite inteira ficou no seu passo, te esperando, de espreita em teu próprio sono.
Vem vindo para comer na palma da tua mão. Trata bem dele, aproveita, enquanto há tempo, o que o tempo permite ao teu coração.
Quem sabe ele vem trazendo um alfange? Ninguém sabe. Pode ser uma canção.
©Thiago de Mello, Poemas Preferidos pelo autor e seus leitores, 2001 (Do Livro: Campo de Milagres,1998) Editora Bertrand Brasil Ltda Rio de Janeiro - RJ - Brasil.
|
|