 
  
    	[Restos de Nada]
    	Data 24/07/2011 16:47:37 | Tópico: Poemas
 
  |  A cascavel estava no topo do  barranco da passagem do corgo, deu no chocalho e assustou o meu cavalo. Terminou morta a paulada, e ficou lá, jogada no trieiro  onde quase ninguém passa.
  Na volta,  depois de muito nascer do sol, o esqueleto branco da cobra tava lá, embranquecido, sequinho, sequinho. Tinha grumos de terra no meio das costelas, parando e olhando bem de perto, deu pra ver que era coisa das formiguinhas que comiam as últimas lasquinhas secas de carne ainda restantes nos ossos da cobra.
  Para que é que me servem esses restos de ossos que ainda carrego? Tinha também uma cabeça de boi amarrada numa macaúba alta, alta... A magrice da árvore quase não comportava a caveira. lembro dos olhos do boi [faz tempo...] no momento que ele levou o tiro de espingarda que fez aquele buraco que eu vejo na caveira.
  E aí? Aí, os marimbondos fizeram ninho na caveira, eu cheguei devagar que não sou besta de atiçar eles, e vi um deles na portinha do buraco de bala. Por onde entra a bala que mata, sai marimbondo que zune atrás da gente!
 
  Eh! De fato, no duro mesmo,  eu não sei se tenho mais medo da bala que alivia, digo, que mata, e deixa caveiras assim, branqueando ao sol, do que do marimbondo que bota gente viva pra correr!
  ______________________________________ Revisitando-me, às vezes, reencontro o mesmo espanto que antes me levara a escrever... às vezes, nada mais acho... só ingenuidade, só simplicidade; pois antes de mais nada, eu sou simples... quem é que não se deixa enganar pelas minhas palavras? Negaceio o que sou... sempre!
  Ah... o poema é do Cap. 2 - Cria e Recria - do meu livrinho, "Araguaris[Narrativas Poéticas]", com primorosas ilustrações de Paula Baggio... trabalho que apresentamos, em interarte, no Museu Nacional de Belas Artes - Rio, 2001
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