NÃO CHORE POR MIM

Data 24/07/2011 22:43:09 | Tópico: Poemas -> Saudade



NÃO CHORE POR MIM


Nunca queria, que isso me acontecesse,
e que essa poesia, voce jamais lesse,
e que respeitasse a minha opinião...
Prá mim é como se fosse leitura grega,
essa sua carta que agora até aqui chega,
depois de separados, por mais de geração.

A história daquele longo e triste noivado,
que hoje está escondido lá num passado,
bem morto na mente de um sadio ermitão.
Se foi aquela época, tempo de felicidade,
se perdeu no mundo, mundo de saudade,
quando fugi da vida,numa ignorada direção.

Estou falando contigo, não posso te receber,
não sabe, mas não vai mais me conhecer,
tenho cabelos longos, e barba tão comprida.
O homem que essa modesta cabana habita,
hoje é simplesmente um solitário eremeita,
que por sua causa, um dia, abandonou a vida.

Morar sozinho nesse mundo, sei que mereço,
como me encontrou?Se nunca tive endereço,
não.Não quero que veja meu ranchinho...
A tanto tempo que deixei tudo na cidade,
passei pra esse lado, aqui da simplicidade,
onde o passado, no meu quarto tem seu ninho.

Se aqui vier, vai mexer com minha solidão,
mas te expulsará com raiva meu coração,
digo a sua carta, não pode mais me ver.
Sabe que vivo, daquele mundo isolado,
e meu vigor de jovem, hoje está acabado,
gastei muita energia, tentando te esquecer.

Saudade? Sou franco,até agora ainda cultivo,
mas não vejo por isso nenhum motivo,
para algum dia em minha vida te encontrar.
Ainda recordo de nossa amigável despedida,
o que colocou em minha alma essa ferida,
que foi veneno para a minha juventude matar.

Mas nem como amiga, posso aqui te receber,
se acaso vier, minha cabana vazia vai ver,
encontrará tudo deserto, ninguém por aqui.
Dessa choupana simples, seu único habitante,
fugindo de voce, estará daqui bem distante,
escreverei na porta<A muito tempo já morri>.

Vem me visitar, é o que diz a carta de amor,
não venha, quero que respeite minha dor,
estou os brancos papéis da carta rasgando...
Com as mãos trêmulas, mãos de um mendigo,
será jogada também a poesia num jazigo,
não verá o ermitão, que cotinua te lembrando.

Não quero, nem de muito longe te olhar,
sairei pelo rio, para num infinito navegar,
está num túmulo, morta, sua saudosa pessoa.
Se um dia te deixei, sem nenhuma maldade,
não queira mexer nesse mundo de saudade,
onde vejo seu nome, nos remos da canoa...

GIL DE OLIVE



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