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    	Data 25/07/2011 14:33:16 | Tópico: Poemas
 
  |  Na suave penumbra de meu quarto, o meu corpo largado na cama distende-se, enlanguescido, no embalo de imagens que desfilam. Pensamentos erráticos, difusos, transportam-me para além de limites cravados...
  Insubmissos, os meus sentidos brincam com a razão, e os objetos do quarto, de olvidada habitualidade, ocupam o espaço com detalhes e formas nunca antes suspeitadas. Os sons vários do entardecer se misturam; repõem a calma que faltou ao dia, e realizam em minha mente, a noite que eu não vejo ainda; estou, nesse instante, à espreita de...
  Estalidos da porta de frente ao se abrir; ouço vozes — é ela! Agito-me apenas de leve na cama, mas detenho o impulso de me levantar; paro e me delicio com o timbre da sua voz e a sonoridade que musica o fim de cada frase que ela pronuncia — É ela sim!  E para atiçar a minha ansiedade, fala com alguém que está na sala, mas, sem perguntar por mim.
  Nem é preciso que ela pergunte; as pausas, as dissonâncias secas de sua voz, asseguram-me: delicada que é, ela remói a impaciência da espera. Por instantes, sem que eu os veja, estabelece-se um tácito acordo de pressurosas modulações de voz, pois somos três a esperar o desfecho: a polidez de quem a recebe, ela, e eu...
  Mas há um prazer em prolongar a agonia; eu permaneço imóvel, fruindo o momento; saboreando, ao limite do gume, a inefável sensação de me saber objeto de um olhar interrogante que me busca por sobre móveis e além das paredes.
  A ansiedade vai ao auge e quebro a espera, desço as escadas devagar e chego à sala. Após um breve silêncio de mútua satisfação, abre-se, fendido pelo brilho de nossos olhares, o espaço, onde, ainda há pouco, apenas nos situava a nossa imaginação.
  Intercalados de breves suspiros, fazemos a sala ansiosa ouvir:
  — “Oi...” — “Oi...” No espaço entre esses sons, sob o ritmo cúmplice de nossas vozes, explodem, intensos, nossos eus doidos de desejo, o prazer que os nossos corpos sabem antes! _______________
  Outra revisitação da minha coletânea "Cavalos da Noite", ilustrada por Paula Baggio
 
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