[A Alameda]

Data 26/07/2011 04:03:04 | Tópico: Poemas

Do corpo antigo da cidade,
resta, esquecida de desvelos,
uma pequena artéria de relíquias
que une os ermos fundos da igreja
ao rápido fluxo de uma moderna avenida.

De suas sombras malferidas de luzes,
a alameda estreita e escura,
verte para a avenida mistérios túrgidos
das interioridades de fachadas silenciosas.

Na madrugada calma,
a luz do topo da igreja
rebrilha nas pedras da alameda
como os círios de um estranho funeral
onde, entretanto, o morto não está à vista.

E como se olvidado de suas fontes,
insustentando-se em sua precariedade,
o Presente, verdadeiro prolapso da vida,
ruge, insensato, louco, fútil
na errosa velocidade da avenida.

Pudera! Pois na declividade
de pedras nuas da alameda,
escoam rápidas como os séculos,
as constantes águas do esquecimento!
E assim, a alameda permanece...

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Da minha coletânea "Cavalos da Noite", ilustrada por Paula Baggio



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