Florir de mim o gesto aberto

Data 06/10/2007 16:18:08 | Tópico: Poemas -> Paixão

Florir de mim o gesto aberto,
a pele tendida em linho chão,
florir no hoje,
no agora, no amanhã, no futuro e no póstumo instante,
dum alvorecer noctívago de tardes supremas.

Amar-te em vagas, em marés, em enseadas,
em dunas jamais circuncidadas
e ser arriba íngreme d’acácias e d’açucenas.

Ser em ti a boca rubra que se oferece,
multiplicada em cada excelso e estrito verso,
na exactidão do espaço exíguo desta tela
onde me dispo
onde me rego
em gelo e fogo,
no desassossego de membros lassos,
transbordante,
sequiosa e ávida,
de te tomar em mim por um só ápice,
nesta paixão afogueada
de um jacinto e de uma “rosa do nada”.

E ver aqui e mais além,
que nada existe mais que não seja,
a brisa a trucidar-me ramagens inspiradas,
raízes cativas nas fontes amuralhadas
em que, monge, te guardas
e donde, indignas, brotam sem regra,
ternuras concubinas de reflexos deslizantes,
matizes perfurantes de milhões de tintas,
de linfas e sangues,
que sorvo, amado, delirante,
na fome alada, diluviana, d’alma purpúrea.



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