Haja paciência

Data 28/07/2011 21:27:42 | Tópico: Crónicas

Domingo, dia de atestar o depósito do carro. A meio da manhã entro na bomba de gasolina e encontro uma fila grande de carros, em contraste com a minha parca paciência para esperar. Acabei, parando o carro do lado contrário ao do depósito da gasolina, porque desse lado a fila era um pouco menor. Quando, finalmente, chegou a minha vez, puxei o carro um tudo nada à frente para que a mangueira chegasse mais facilmente ao depósito. Tranquei o carro e lá fui eu, civilizadamente, cumprir a exigência do pré pagamento, modalidade adotada já há algum tempo, por via da malandragem que atesta e foge.
Paguei e saí da gasolineira na direcção do carro para meter gasolina, mas não queria crer no que os meus olhos viam. Uma mulher encontrava-se a atestar a mota na minha bomba, esclarecendo melhor, com o dinheiro que eu havia pago.
Aproximei-me dela, perplexa e confrontei-a com aquela atitude meio descontextualizada.
- Olhe desculpe! A senhora está a abastecer na minha bomba. Penso que leu que é pré pagamento.
- A “madama” está a falar comigo? Como vê, não é preciso pagar primeiro, senão como é que eu conseguia encher o depósito da mota?
- É simples, com o meu dinheiro, não acha?
- Coitada! Olha pr’a ela. Lá porque anda de carro, já julga que o dinheiro dela vale mais do que o meu.
- Vamos lá a ver se nos entendemos! Não entre por campos que em nada para aqui são chamados. O que eu quero saber, é como é que eu agora ponho gasolina se a senhora já gastou o meu plafond.
Acabei por voltar à bomba e expor o ocorrido à funcionária que já se havia apercebido, por entre os vidros, do que se estava a passar.
Curiosamente, a assistência do espectáculo era composta por um grupo de polícias que aos domingos estão ali a tomar café e na caça à multa, assim haja algum condutor distraído que ao sair da bomba resolva encurtar o caminho e virar na direcção do estádio do Bonfim, cometendo aí uma contra ordenação porque pisa o traço contínuo, embora não ponha ninguém em perigo, pois tem espaço e visibilidade suficiente para inverter a marcha.
Os polícias riam a bom rir e a funcionária mais ponderada e profissional disse-me que fosse abastecer pelo mesmo valor anterior.
Dirigi-me à senhora da mota e repliquei, ainda, irritada q.b:
- Já percebeu, agora, o que eu lhe estava a explicar? No mínimo deve-me um pedido de desculpas, não?
- Desculpe lá oh “madama”! Sou pobrezinha, mas vou pagar o que devo.
Eu respondi que o insólito mais parecia uma cena de apanhados. Quando entrei no carro para me ir embora, um dos polícias saiu atrás de mim e posicionou-se de forma a constatar se eu cometeria a infracção de pisar o traço contínuo…
“Há dias de manhã, que a gente à tarde, não devia sair à noite…”
Melhor dizendo… Haja paciência!





Maria Fernanda Reis Esteves
51 anos
natural: Setúbal



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