 
  
    	[Cartas, Velhas Cartas...]
    	Data 03/08/2011 04:51:07 | Tópico: Poemas
 
  |  [Memórias da Travessa Assunção, 68 – Araguari-MG Minha mãe escrevia cartas a pedidos... ]
  Na calmaria de certa tarde antiga,  ela escreveu uma “resposta” para aquela mulher que tirou do seio um bilhete enroladinho e lhe entregou com a mão trêmula: — Escreve uma resposta para ele...
  Minha mãe desenrolou o bilhete,  segurou-o com as duas mãos, e, em silêncio, leu com toda a atenção. Depois, abriu o tinteiro cuidadosamente,  mas antes de mergulhar a longa caneta cinzenta, parou com a pena suspensa no ar, olhou no fundo dos meus olhos compridos e disse-me, carinhosa: — Anda, filho, vai brincar no quintal!
  Ah, cartas, velhas cartas!  Ah, o carinho da discrição, do respeito aos sentimentos dos confidentes! Minha mãe jamais me revelou o conteúdo de nenhuma carta que escreveu a pedido!
  Ah, cartas, velhas cartas! Quantas lágrimas choradas ao compasso das evoluções da pena de minha mãe, quantas! Diálogos surdos — a fala calada,  apenas dita assim,  de olhos a olhos; a leitura sutil dos sentimentos alheios!
  Aquela resposta daquela tarde — aonde terá ido... Teria levado as lágrimas daqui para as lágrimas de lá? Ou as teria levado para uma insensível face de pedra? E mais: se houve uma resposta àquela resposta, não sei, pois a mulher jamais voltou a minha casa...
  ___________ E da velha Minas, verte o mundo, até hoje, e sem parar!
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  [i]Poema resgatado do meu "Caderno 1"[/i]
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