Vintage

Data 03/08/2011 12:01:38 | Tópico: Prosas Poéticas

Venho de longe. Descansada de estes, agora, deixo-me cansar de oestes avermelhados, no limiar dum porto quase cais de partida. Mas cheguei, finalmente, aos beirais pacíficos onde me sento bebericando um vintage, a admirar horizontes...

E aqui me demoro de cálice na mão, onde mergulho o sol cadente e remexo sabores tangentes. Na contraluz, o líquido concentra-me reflexos místicos no rosto e encandeia-me recordações. Fecho os olhos para ver melhor: há um sentir de sempre a aflorar-me as asas dos dedos, um saber ingénito na liberdade dos sonhos, uma intensidade certa no estremecer das pálpebras - que me diluem no próprio líquido que saboreio, e me encorpam na textura quase imaterial do cristal que me segura o mundo. O Mundo, que, neste momento, é só o pedacinho de mar, vinho, amar e ninho que, do meu beiral, o meu olhar abarca... através da translucidez rubi do (meu) cálice.



Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=194423