Flutuar

Data 07/10/2007 22:05:54 | Tópico: Poemas




Voltar-te como um junco sem grande peso:
Meia haste retorcida,
Alguns nós de caule por enxaguar,
Poucas folhas, nenhum viço.
Descer-te meio palmo abaixo da última nódoa negra. Sulcar-te meia dúzia de limos verdes
A seguir à correnteza.
Rasgar-te um lodo nu.
Primeiro com a boca - só com a boca:
Ainda sem dedos.
Depois lembrar-te que é sem âncora e sem escora,
O caminho dos que pertencem às águas lisas. Dizer-te que ainda sei de ti,
Mas qualquer coisa me fez perder o teu nome. Perguntar-te no descompasso se acaso,
Ainda alguma asa te roça em mim.
Derivar-te.
Marear-te.
Flutuar-te.
Um pouco.
Também.
Sim.
Só.
E, ainda assim, outra vez sem medo.
Nenhum medo.


Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=19542