Triste partida

Data 01/09/2011 18:33:55 | Tópico: Letras de Música


Triste Partida

PATATIVA DO ASSARÉ

Setembro passou, com Outubro e Novembro
Já estamos em Dezembro,
Meu Deus, que é de nós?
Assim fala o pobre do seco Nordeste,
Com medo da peste,
Da fome feroz.

A treze do mês ele fez a experiença,
Perdeu sua crença
Nas pedras de Sal.
Mas noutra experança com gosto se agarra,
Pensando na barra
Do alegre Natal.

Rompeu-se o Natal, porém barra não veio,
O sol bem vermelho,
Nasceu munto além.
Na copa da mata, buzina a cigarra,
Ninguém vê a barra,
Pois barra não tem.

Sem chuva na terra descamba janeiro,
Depois, Fevereiro,
E o mesmo verão
Então o Nortista, pensando consigo,
Diz: - isso é castigo,
Não chove mais não!

Apela pra Março, que é o mês preferido
Do Santo querido,
Senhor São José.
Mas nada de chuva! Está tudo sem jeito,
Lhe foge do peito
O resto da fé.

Agora pensando ele segue outra trilha,
Chamando a família
Começa a dizer:
- Eu vendo meu burro, meu jegue e o cavalo,
Nós vamos a São Palo
Viver ou morrer.

- Nós vamos a São Palo, que a coisa está feia;
Por terras alheias
Nós vamos vagar.
Se o nosso destino não for tão mesquinho,
Cá pro mesmo cantinho
Nós "torna" a voltar.

E vende o seu burro, o jumento e o cavalo,
Até mesmo o galo
Venderam também,
Pois logo aparece feliz fazendeiro,
Por pouco dinheiro
Lhe compra o que tem.

Em um caminhão ele joga a família;
Chegou o triste dia,
Já vai viajar.
A seca terrivel, que tudo devora,
Lhe bota prá fora
Da terra natal.

O carro já corre no topo da serra.
Olhando prá terra,
Seu berço, seu lar,
Aquele nortista, partido de pena,
De longe acena:
- Adeus, Meu lugar!

No dia seguinte, já tudo enfadado,
E o carro embalado,
Veloz a correr,
Tão triste, o coitado, falando saudoso,
Com seu flho choroso
Esclama, a dizer:

- De pena e saudade, papai, sei que morro!
Meu pobre cachorro,
Quem dá de comer?
Já outro pergunta: - Mãezinha, e meu gato?
Com fome, sem trato,
Mimi vai morrer!

E a linda pequena, tremendo de medo:
- Mamãe, meus brinquedos!
Meu pé de fulô!
Meu pé de roseira, coitado, ele seca!
E a minha boneca
Também lá ficou.

E assim vão dexando, com choro e gemido,
Do berço querido
O céu lindo e azul.
Os pais pesarosos, nos filho pensando,
E o carro rodando
Na estrada do Sul.

Chegaram em São Palo sem cobre, quebrado.
O pobre, acanhado,
Procura um patrão.
Só vê cara estranha, de estranha gente,
Tudo é diferante
Do caro torrão.

Trabalha dois anos, três anos e mais anos,
E sempre nos planos
De um dia voltar.
Mas nunca ele pode, só vive devendo,
E assim vai sofrendo
É sofrer sem parar.

Se alguma notícia das bandas do Norte
Tem ele por sorte
O gosto de ouvir,
Lhe bate no peito saudade lhe mói,
E as águas dos olhos
Começam a caír.

Do mundo afastado, ali vive preso,
Sofrendo desprezo,
Devendo ao patrão.
O tempo rolando, vai dia vem dia,
E aquela família
Não volta mais não!

Distante da terra tão seca mas boa,
Exposto à garôa,
À lama e ao paú,
Faz pena o Nortista, tão forte, tão bravo,
Viver como escravo
No Norte e no Sul.

"Um dia Lula também fez esta Via-Crucis, mas acho que não foi em vão"

Ouça na voz de Luiz Gonzaga e seu filho Gonzaguinha.

http://youtu.be/0s4BbHxpUKY




.



Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=197724