
Escrever
Data 12/10/2007 16:31:26 | Tópico: Poemas
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Passo os olhos pelos pormenores, como se fossem do tamanho do mundo. Enquadro em pequenas sílabas as grandes coisas que ocupam o espaço que me ocupa. Sinto a saliva a escorrer, como um rio em pleno verão que se agonia em pranto enquanto seca e parte. Os lábios sussurram, os olhos inclinam-se nas folhas que me servem, onde me estendo e gozo no fluir das coisas que me explodem nos dedos. Desconserto o arranjo das quadras certas, das frases matemáticas geométricas. Sou as palavras despenteadas, e a força bruta e intemperada que rompe das angústias, rotinas de fato e gravata. Sou o teu amor repentino, o livro amassado das noites dormidas à cabeceira, das palavras obscenas que me atormentam, que gozam na irreverência, com que a ternura chega e cala, no cansaço de quem se vence. Sou a escrita tornada dia, nas palavras negras em véu branco, a prece inventada por isso mais cara, mais certa sou eu nos dias que me faltam antes que chegue a morte, e me fique este esboço que pode viver ainda além de mim.
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