O MEU REGRESSO (Jairo Nunes Bezerra)
Acabo de regressar a Buenos Aires e na mesma porta de saída do aeroporto, coincidentemente, encontro o mesmo motorista, com o mesmo carro, que me levara há dois anos, ao centro da cidade. Reconheceu-me e com largo sorriso cordial e um espanhol fluente, se prontificou a fazer o mesmo trajeto feito anteriormente. Vem sendo assim o meu regresso. Tudo bem!
Ao chegar ao hotel, dirigir-me ao atendimento e me expressei com o meu escolar espanhol: “Permita mo que mo apresente, yo so Jairo Nunes Bezerra”. O atendente sorriu e disse: Que bone!... Eu também sou pernambucano!...Foi um atendimento de primeira.
Almocei no salão do hotel e fui visitar as galerias próximas de onde me encontrava. Os preços! Que beleza! Menos valorizados do que os nossos. É isso mesmo! É uma nova cidade!
Vislumbro pessoas bem vestidas. Algumas até com exagero! Porém a concentração delas é em volta de uma pequena banca, que vende cachorro quente. Fico pasmado! E vejo que a situação nesta cidade não vai nada bem. Almoçar cachorro, diariamente, não é saudável.
Continuando o lazer do meu primeiro dia, fui ao bar mais próximo, onde solicitei uma dose de passport scotch, o aperitivo de minha preferência. Poucas pessoas ali se encontravam. As duas mulheres presentes olharam-me e depois sorriram... Talvez um convite... Mas continuei no mesmo lugar, enquanto do fundo do bar, ouvia-se, embora baixinho, o mais lindo tango. Era-me desconhecido. Nunca o ouvira antes. Porém havia algo de Mano a Mano. Talvez a música. E as meninas continuavam a olhar-me... Havia um contraste entre as duas. A mais próxima, tinha os olhos esverdeados e os cabelos doirados, com a estatura de 1,69 aproximadamente. A outra, talvez de l,66, tinha os cabelos negros como as asas da graúna e seus olhos profundos como a noite eram acinzentados. As duas eram dignas de uma tela da renascença. Dizem: “Quando Maomé não vai à montanha, a montanha vem a ele! Foi o que aconteceu: Vieram à minha mesa e se identificaram. Uma era bancária e a outra, a morena, comissária de bordo. E também estavam em Buenos Aires, apenas pela terceira vez. Identifiquei-me apenas como poeta, escondendo as outras profissões . Ficaram radiantes! A loura disse que o pai Fora poeta e recitou duas de suas poesias. Gostei. Elas pareciam declarações de amor. Faltava-lhes a rima e a metrificação. Mas é modernismo! A outra, a morena, disse que a sua mãe fora poetisa, mas infelizmente nada gravara. Aceitaram o meu convite para saborearem o Passport, sob uma condição: Elas pagariam os seus consumos. Aceitei, e deixei de lado o velho costume de pagar as contas das donzelas. Ali mesmo na boca do forno, compus várias poesias. Elas ficaram maravilhadas e sem meu consentimento, me beijaram ardentemente. Eram duas Crianças na maneira de agirem.
Às 18 horas, já escurecendo, foi feita a despedida!... Elas fizeram uma exigência. Teria de comparecer Logo mais, às 22 horas, a uma casa do tango, a ex-Casa Branca. Não confirmei a minha ida, pois chegara há pouco do Acre. Em um pequeno papel, deixaram o telefone e número do quarto. Não sabem elas que o pequenino papel foi levado pelas brisas do entardecer e talvez agora mesmo tenha sido sorvido pela boca de um esgoto.
Estou cansado. Também com frio! Vou regressar ao hotel De onde pretendo sair só amanhã.
|