NO DIA EM QUE MORRI

Data 12/09/2011 17:25:18 | Tópico: Poemas -> Surrealistas



Subitamente
O estrépito do roçar
Na funérea estrutura granítica
Faz-me retomar a consciência.
Regresso a mim
Por instantes saí da morte
E farejei a vida.
Tudo foi instantâneo
Não houve tempo
Para aquilatar
Da sede de regresso
Ou da expectativa
Do novo caminho encetado
- O da irreversível morte.
O ultimo instante
Foi mesmo a morte
Que mo anunciou.
Estou morto, sinto-me morto
Portanto do outro lado da vida
Pergunto-me o que vai ser de mim
O que foi dos que me precederam
Há mil, milhentos anos
O que vai ser dos que me sucedam
No futuro, se futuro existe.
Nesta terra que há pouco
E por razões muitas
Se me fez sofrer
Me embrenhou
Em suas delicias
Num encanto feito natureza,
O que vai fazer de mim
De todo esse mundo
Que para trás fica
Em que vai ele converter-se
Que desfecho o espera
Que resposta porventura
Lhe está prometida.
Será que a verde floresta
A montanha alterosa
As flores do jardim que anelei
O amor que fui capaz de dar
E aceitei receber
Estão traduzidos
Nesse futuro em que acreditei?
Foi o acaso que ditou esse futuro
Ou energia que me ultrapassa
E que pelos caminhos da morte
E apesar deles
É garantia de vida
De um amanhã que existe…
Se assim é
Não é patético
O roçar do meu caixão
Pela dureza granítica
Da minha sepultura,
Tão pouco o ruído
Que me acordara da morte.

Antonius



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