Amor de verão enterra-se na areia

Data 14/10/2007 23:30:26 | Tópico: Textos -> Esperança

Chega o passado com o seu calor de Agosto, quente e morno, doce e prometedor da eternidade. Sem depois, sem o futuro que hoje se torna presente, onde tudo parece longe e tão fora de alcance. A certeza de que não se repetirá o morno abraço, pelo menos da maneira como o conheci, em todos os sonhos que criei, criei... voei, mas voei sozinha... voei com uma presença criada, que nunca lá esteve como a imaginei. E agora apercebo-me que estou sozinha, como sempre estive!, mas agora vejo-o. Sinto-me traída! ... traída... mas não sei quem me traiu, se eu própria se tu, meu anjo imaginado. Imaginei tudo? Tu dizes que sim... então, em que mundo estive, como pude imaginar tanto, deixar o meu coração elevar-se, louco e surdo, sem entraves, sem condicionamentos, sem a certeza de que se estava apenas a deixar ir... queria tocar o sol... queria beijar as estrelas... deixei-o ir... quem é capaz de controlar um coração, afinal?, eu não fui capaz... agora... ele continua lá no alto, desce quando perde o ar quente e morno de Agosto que o eleva, mais um bocadinho... só mais um bocadinho... dá-lhe ar quente, dá-lhe mais uma vez o doce sabor da ilusão...

Chega o passado com o calor de uma noite perdida a pensar em ti, meu anjo imaginado. Chega mais uma vez, e eu procuro alento para ver o Sol nesse passado que imagino, que crio em cada momento, decoro com flores, árvores, jardins inteiros e bosques luxuriantes, só para mim e para ti, não para ti que existes, mas para ti, que viver só no meu coração.

<br />Chega o que eu tenho de enfrentar e vencer, porque afinal de contas, sou tão forte, não é?, mas eu caio, eu procuro-me de novo, eu quero o meu espaço, quero isolar-me, quero voltar-me para dentro, colapso sobre mim própria... volto ao que eu chamo só meu, e que não quero (não quero!), partilhar com mais ninguém... aqui sou rainha... sou senhora do que sinto... ninguém me diz que não pode ser assim.. porque aqui, neste pedaço de coração que eu chamo insistentemente de meu, coloco o que quero, dou-lhe asas quando quero... deixo-o voar alto ou cair tão baixo...

(Março de 2004, para o Tiago)


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