Eu não quero que me chorem (nem sei se alguém terá vontade), nem que digam de mim que fui um fiel defunto, quero que falem dos meus defeitos como se virtudes fossem, porque o meu pecado é amar, que a minha mortalha seja do mais puro linho bordado em versos que não escrevi, porque quero que seja perfeito, como a canção que velava os meus sonhos pueris. O caminho à minha campa não terá engulhos como a vida que vos testemunho, quero-a rasa sem pedras nem enfeites, só o verde da relva que me perfuma os devaneios. Quero na morte o riso que me falta, bordado na lapela o amor que quis dedicar a tudo… a todos… e quase nunca fui capaz. Quero um pardal cantador e altaneiro a chilrear-me as manhãs de sol que não mais me iluminarão o dia. Na relva do meu repouso que nada se diga, que nada se escreva, quero me incógnito como a vida o foi para mim. Viva, fascinante e enganadora, em cada dia que passava mais perto ficava da tumba que me reservava. Não sei como estará o tempo nesse dia, mas se chover…adiem. Odeio lágrimas.
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