
[A Partida]
Data 06/10/2011 03:55:27 | Tópico: Poemas
| A vida é essa voragem escura que nos consome, é a dor de nem ter como falar em esperança... Exceto aquela de reviver o breve instante em que juntos pairamos no ápice do gozo!
Ah, loucura, loucura — dissemos depois de provar daquele custoso fruto proibido; e como não havíamos de querer mais?! Para nossos seres antes desparceirados, viver sintetizava-se na magia do encontro! Mas nossos descuidos foram tantos que daquele amor só restaram cinzas! A noite é fria e a lua ainda está alta;
ressumam as plantas o orvalho da noite. Ainda estamos no portãozinho da rua, e sabemos que pisaremos pela última vez as sombras da folhagem da alamanda.
Uma luz na casa parece avisar da hora, você já vai entrar, e eu vou subir a ladeira, pensativo, com vontade louca de morrer, e ruminando que a vida vale nada,
que tudo eram sombras em nosso caminho! Os interditos da vida não nos deixaram ser; e a nossa fraqueza só podia dar nisto: despedida! Eu vou partir só, como antes, quando cheguei...
Mas é impossível que nada tenha ficado, é impossível partir sem nada levar! Ficou-me sim, esta amargura da perda — o mal galopante da ventura desfeita!
Em mim, agora, nada é sólido, exceto essa vontade de ir... esperança de voltar, se alguma houve, morreu ainda há pouco quando você voltou-me as costas!
[Penas do Desterro, 13 de fevereiro de 2001]
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