Esta noite

Data 19/10/2007 13:26:48 | Tópico: Poemas -> Amor

Esta noite, no derrame das memórias,
nutriste com a tua presença
o memorial acesso da nossa história.

Esta noite, no cálice que te ofereci,
coloquei depositadas, uma a uma,
pétalas soltas
das mágoas e das tristezas,
que me debilitam, que me fragilizam
em dor, na seiva de um bem-querer
maior.

Esta noite, o sal das minhas lágrimas,
salgou o mar a escorrer-se virginal pelo teu corpo
e a negra noite, amado,
... a noite, envergonhada, escondeu-se dentro de ti,
quando, numa dança ébria, sem fim,
dancei a Lua plena da tua alma,
ao compasso sincopado de um tango antigo,
e logo de uma valsa lenta,
dulcíssima,
mansa, serena,
sobre a irreverência do teu gesto
desmedido
engalanado em êxtase num sorriso de criança
no momento exacto em que soltei
a mordaça que me oprime o voo aberto,
que me assombra o pulsar amotinado
do gesto até aqui resguardado no lugar
preciso onde o luar diurno naufragou.

Esta noite, fui em ti a flor aberta
de um paraíso secreto por ti cultivado
na dolência
na ausência
na cadência
dum comum pulsar
de cascos ávidos sobre as ondas agitadas de alto mar.

Boston, 13/X/2007


Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=20205