quem escreve fá-lo

Data 17/10/2011 20:53:04 | Tópico: Textos

sempre que me apetece escrever esgrimo com a vontade de dizer e calar aquilo que penso tudo dentro da ideia exposta, domestico-me e repugno-me para a ponderação da mão em equilibrio neste exercício. fatalmente, neste caminho deparo-me com escolhas que encaro, enfrento, assumo e que não posso destruir, sob pena de destruir a escrita e a autora. reconheço neste exercício, a maior parte das vezes uma euforia da linguagem, como um narcisismo em que o que o escrito diz se separa da sua função e se olha a si próprio.
ao pensá-la, a escrita está-me suspensa no olhar, como um escândalo por vezes fora do bom senso, da moda ou da organização ideal.
e mesmo que dirigida ao tempo e aos homens, é-me sempre solidão
por isso, para deixar de o ser, dou-a como espectáculo.
será talvez isto, de que se faz a literatura quando a escrita é ela mesma um olhar, um fazer, um assassínio ou ainda uma ausência mas sempre impregnada de uma moral linguística.


Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=202560