[Às Portas de Mim]

Data 18/10/2011 05:54:35 | Tópico: Poemas

O clac azeitado da fechadura
deixava lá fora a noite,
os estranhos, os perigos.
Por uma fresta no alto da porta
o dia estava indo embora...

Hoje sei bem que um tranco só
e a velha porta de duas folhas
cederia escancarando nossas vidas.
Mas quem daria esse tranco,
quem forçaria as portas de guarda
de um santuário de pobre?

Em contraponto, eu pergunto:
se hoje eu estou encerrado
na construção que me sepulta,
quem forçaria as portas
que dão para este calabouço,
quem bateria às portas minhas?

[Ninguém sabe quanto vale, logo,
ninguém paga o preço real de ninguém,
e se mais clareza me for demandada,
direi que clareza maior não pode haver
que mirar as áscuas na água do fundo
de um poço quando sol está a pino]

__________
[Penas do Desterro, 08 de janeiro de 2010]
[Excerto do meu Caderno 4 – texto 147]




Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=202606