A ESTRADA

Data 19/10/2011 21:58:59 | Tópico: Poemas


A ESTRADA

Alheado,
deslumbrado
e mudo.

A música alta no auto.
A chuva que lava
e ricocheteia no pára-brisa.
A janela do motorista arriada.

Trago o vento
e a água
para dirigirem
na estrada comigo.

Conservo no formol
do raro trânsito
um estado de desabrigo
tão estúpido quanto desperto.

Penso que penso d'um jeito engraçado:

"Minha mente, um reles
atum cru
mergulhado no azeite".

Porque agora
inexiste
o tempo exato
para qualquer corrupção,
para o auto-deleite.

Sem razão, acelero.
Tudo de fora me entra.
Nada de dentro me sai.

Rio alto; reajo aloucado.
Seria a vida que vive solta?
Seria a morte que, presa, se esvai?

Gê Muniz



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