Dois lados do mesmo mundo

Data 28/10/2011 19:42:46 | Tópico: Prosas Poéticas

Estava distante… de ti… do mundo, perdido entre pensamentos vagos e perpétuos, tentando inconscientemente encontrar um retorno nos desígnios da vida. Subitamente os céus rugiram de uma forma impetuosa, sobre o choque das nuvens negras que cobriam a terra impondo o seu domínio sobre a escuridão.
Uma pequena brisa contornou os traços cansados do meu rosto como que me acariciando a pele pela sua passagem, com o seu toque suave e terno.
Na nostalgia do momento, na solidão que me consumia o espírito e que tentava lentamente desabrochar do seu próprio abismo, nesse momento o céu chorou.
As suas lágrimas que caiam sobre a minha pele me lavando o rosto, transformavam o mundo ao meu redor e subitamente despertei como que se tivesse caminhado num sonho profundo, num mundo distante da realidade, numa distorção da verdade. Vejo agora a guerra que me levou para longe de ti, do teu mundo, do nosso mundo. Onde as cores são vivas, onde o sol nos aquece a pele, nos conforta, onde escuto o riso das crianças pela manhã ao caminharem para a escola, nos seus pequenos passos, ambiciosos e ao mesmo tempo desprovidos de guia, de um sentido, pendentes ao amparo dos pais. Esse sonho, esse reflexo de uma memória que fere a alma, onde caminho lado a lado contigo de mãos dadas, e o mundo, esse… cabe na nossa mão.
Escuto agora o som da chuva forte, que se sobrepõe a todos os outros sons, o murmúrio dos homens que deambulam pela neblina foi ocultado pelo seu poder, pela sua magnitude, por essa natureza tão sublime que dá vida, e renova os corações com o seu canto.
Vejo-te agora claramente, o cabelo ondulado que te caí sobre os olhos com um espiral reluzente aos contornos do sol, da luz que resplandece o teu sorriso, dos teus lábios que estremecem o meu mundo pelo seu toque.
Preservo o meu nome como letras gastas, quase extintas, mas mantenho vivo esse teu perfume, a tua essência que vive dentro de mim, que me possuí e me entretece como um feitiço eterno, como uma masmorra da alma, da qual a chave, foi lançada nas profundezas da terra. Aqui… no fim do meu mundo respiro-te, e sinto-te, no toque da chuva, no sopro do vento, e na força da terra.

- Do outro lado do mundo -

Observo os meus passos na areia, esse rastro solitário, o toque morno da maré que sobe lentamente, do vento que sopra em vão, tentando alterar o rumo do mundo. Observo o despertar do sol no horizonte, aguardo que a luz te traga de volta aos meus braços. Que esse mundo cruel que te roubou de mim, te devolva num súbito gesto de misericórdia, de compaixão, de piedade. Que se sinta comovido pela nossa paixão, pelo nosso amor profundo. Que saiba esse mundo, que és a luz do meu mundo, que quando me roubou de ti, levou também o meu sol e me abarcou nessa escuridão, nesse ocultar dos sentidos. Na perplexidade de uma vida sem rumo, sem destino, sem sentido, sobrevivendo apenas da saudade, da esperança, da dolorosa memória que me visita a cada momento, a cada instante. Do sonho que momentaneamente me conduz de volta a ti, numa pequena imagem que me traz de volta esse mesmo sonho que um dia fomos, essa ilusão impossível que os homens não podem entender.
Está acima de todos nós, numa linguagem que por nós não pode ser escrita, porque por nós não foi tão pouco gerada.
Procuro o meu recanto, na solidão, no desespero e penso que vives. Imploro aos céus que sonhes como eu, que te transportes a esse reino de mil e uma cores que nos dá vida, e nos faz resplandecer na escuridão. Aguardo hoje… sempre… eternamente, por esse retorno que não pode ser negado, não pode ser esquecido, pois vives em mim e me dás vida. Nesse mundo sereno, ambicioso coberto de amor, que só existe através ti… de mim… de nós.

Grato por lerem,
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Joel Flor



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