Caminhando com Thoreau

Data 29/10/2011 13:10:55 | Tópico: Frases e Pensamentos

Gostaria de comentar certa frase de Thoreau dizendo nada. Calando e levantando a cabeça, olhando de perto o céu, fugindo dos tetos, nada de afrescos ou tintas.
De certa maneira ele atinge o ômega, fala de alfa como quem vê Sirius, sonha acordado dizendo e falando e bocejando poesias: impressiona como versos alquímicos.
Ele desiste da gravidade e nos faz flutuar em levezas: sensação de ser balão de gás, sem gás, vácuo que voa. Entrou pra História ao sair do útero, como todos nós, pois acima de tudo sabe que nada sabe, sabe tudo.
Nada de Guerras, Bloqueios Continentais, nada de ir além da Taprobana... nada disso precisou, deixou o impreciso tomar conta de si, virou borboleta, poeta, planta, flor... era só respirar, era só inspirar, nos diz sem talvez dizer, só na frase mesma.
Acordou o dia, abriu os olhos dos livros, mordeu a orelha dos anjos, pediu perdão por ter morrido na cruz: libertou a liberdade.

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"Quero uma sentença que nenhuma inteligência seja capaz de entender." Henry David Thoreau

"Quero uma sentença que nenhuma inteligência seja capaz de entender. Tem que haver nela uma espécie de vida e de palpitação, e sob suas palavras tem que haver um sangue em circulação perpétua. É maravilhoso que chegue até nós um som partido de tão longe, quando tão limitada é a voz humana, e quando mal conseguimos ouvir nossos contemporâneos. Os lenhadores cortam uma antiga floresta de pinheiros e agora se pode enxergar desse morro um lago belo e distante, a sudoeste; e agora esse bosque vê instantânea e claramente essa imagem, como se ela tivesse vindo da eternidade. É possível que esses velhos tocos espalhados pelo morro se lembrem de uma época muito distante em que esse lago brilhava no horizonte. Quem sabe se a própria terra agora nua não se emocionou ao enxergar de novo tão bela paisagem? Aquela água ali estendida ao sol, revelada enfim, e tão mais orgulhosa e bela porque sua beleza não precisava ser vista. Ela surge ainda solitária, suficiente para si mesma, acima dos olhares curiosos. Essas velhas sentenças são assim como os serenos lagos do sudoeste: finalmente conseguimos enxergá-las, mas de há muito elas vem refletindo em seu seio o céu sob o qual vivemos." Thoreau.



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