
ESTUPRO DA SONÂNBULA(de "Vozes do Aquém")
Data 12/11/2011 23:06:06 | Tópico: Poemas
| A bela que levanta à noite é aquela que o caçador fareja e empurra para a janela.
Não há senão o céu sem estrelas, após a veneziana, que felizmente emperra e evita o pior.
Mas os grilos gritantes fazem tanto barulho, ajudados pelos morcegos e pelas cigarras, que a tranca finalmente cai e o orvalho faz seu abominável serviço de preparar a carne para o banquete.
O pelo antecede o apelo, intercedendo na rota entre a mão e o gesto.
Fica a trança, refém da tiara, sustentando contra tudo a virtude.
Enrosca na grade a última conta do terço, feita de vidro e não de cristal, arrebenta, porém, esparramando reflexos pelo jardim.
A Besta assusta com a luz e corre.
De longe lança o seu feitiço, poderosa flecha, roxa como convém ao momento, acertando em cheio o peito desfeito, que racha, para acolher o beijo do passante distraído, agora personagem.
Do ato será parido o mantra, para ser usado na sétima porta, mesmo que doa.
|
|