SE É QUE TENHO UMA LÍNGUA NA BOCA
Data 24/11/2011 12:19:42 | Tópico: Poemas
| . SE É QUE TENHO UMA LÍNGUA NA BOCA
outro inconveniente e absurdo mundo se desvele além de aonde este ora está:
venha permeado de bizarras alegorias venha sem saber de ordem, lugar venha por ganhar significado
novos verbos de novas ações se atropelem ao adentrarem-me bagunçados impolutos, putos e revoltos pelos buracos regaçados espalhados do meu corpo
palavras recém-paridas me avassalem pelos vácuos dos olhos pelo ânus pela uretra ouvidos, boca, narinas entupam-me como o ar e a água
por fim acotovelem-se em meu centro por frases inauditas e ferinas, façam-me muito mal em sal de estricnina envenenem-me de inéditos estrondos dos estranhos sons delas
façam ao lamaçal da minha carne a sua pior e carniçal guerra espedacem-me as tripas em ripas, em quimeras
não mais me deixem a me estar ao meu jeito manirroto recostado, empachado ao sofá dessa fresquíssima sala de estar a subverter, no papel, essas merdas de poeminhas
de lá p’ra cá de lá p’ra cá de lá p’ra cá...
ganhei nojo de retocar a beleza tal um maquilador de fétidos defuntos
adquiri absoluto horror de encontrar a concisão d’uns abestados anacolutos
apanhei terror insano da fusão bondosa e sensata dos correlatos sentidos
preciso da mais indevota convulsão ao pressentir o sentido vadio, erradio e desnutrido das frases
preciso gerar um feto ensangüentado desse bucho virado...
preciso de cócoras expulsar monstros horrorosos impoéticos e miraculosos desde nunca imaginados
que só estou cá ao sofá a subverter n’alguma coisinha distinta e esperta essa versalhada de quinta...
de lá p’ra cá de lá p’ra cá de lá p’ra cá...
vá lá essa merda de poema tão explicadinho de cabeça, tronco, dois pés vá lá essa escrita certamente morta em seu nexo inconteste...
careço descobrir se tenho uma voz própria (se é que há língua)
Gê Muniz
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