 
  
    	... sorvo prados morenos dos teus olhos
    	Data 26/10/2007 10:36:00 | Tópico: Poemas -> Amor
 
  |  Na mansidão da desordem eclode a  primavera de um tempo de medusas vivas,  a descerrar-se do beiral de roseiras e d’urtigas.
  Ninfa primitiva dos bosques,  mastigo a beberagem da taça de cicuta em goles dúcteis,  pequenos, serenos. Em deleite, antecipando a viagem, sorvo prados morenos dos teus olhos, meu amado.
  No talhe angulado e bilabiado da boca, bebo-te a voz, quente, rouca, que me fala a alma, que sacode negras nuvens da noite que agora morre. (E dela, a mensagem primitiva, descodificada,  no amanhecer livre d’aurora.) Liberto a fragrância de póstumas lágrimas  na aragem libidinosa que se escorre, derivada, sendo seiva, saliva, de que se alimenta a planta, do caule à folha, em cadência preliminar e recôndita. Silencio o mais fino nevoeiro em gelosias de lume, solto os seios, os limites, os anseios,  os desejos mais frementes. Despenho-me ninfa ou fada, no teu colo, amado,  de melodia carmina,  e sou centelha Pré-câmbrica a eclodir-se vermelha no primado duma Nova Era.   Amo-te para além do véu do vento,  perpasso a areia na procura da raiz deste bem querer imenso e, por fim,  sou sobre ela, serenada em ti,  a prata exultada em dia de lua cheia.
 
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